O factor mais interessante do primeiro ano do Governo de António Costa tem sido a quase ausência de contestação sindical, designadamente por parte da poderosa CGTP, fortemente ligada ao PCP. Depois de décadas a ouvirmos o “martelar” dos megafones da Inter em protestos diários, os ‘controleiros’ das greves e das acções de rua quase desapareceram do espaço público, dando lugar a uma estranha paz laboral…
Um ano depois das eleições legislativas de 2015, o PS de António Costa aparece pacificado em torno de um líder que, apesar de ter perdido nas urnas, conseguiu, com negociações na secretaria, encontrar forma de assegurar o apoio do PCP, do BE e do PEV para viabilizar um Executivo minoritário socialista.
Costa levou ao poder os socialistas, numa solução nunca antes testada que surpreendeu os nossos credores e parceiros comunitários, precisamente por colocar o Governo na dependência de partidos como o PCP e o Bloco, que tradicionalmente estão fora do arco da governação. Partidos que defendem, por exemplo, a renegociação da dívida e que contestam, por razões ideológicas, aquilo a que chamam “o espartilho dos Tratados Europeus”.
Mas o factor mais interessante deste primeiro ano de Costa tem sido a quase ausência de contestação sindical, designadamente por parte da poderosa CGTP, que tem uma fortíssima ligação ao PCP. É mesmo uma corrente que funciona nos dois sentidos: o PCP condiciona a CGTP, mas a central sindical também tem uma palavra de peso dentro do partido. O actual secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa (que vem do sector operário do PCP, e não do sector intelectual, como Carlos Carvalhas ou Álvaro Cunhal), recuperou dos maus resultados nas legislativas de há um ano e parece ter assegurada a reeleição no próximo Congresso de Dezembro. De pedra e cal mantém-se também o líder da CGTP, Arménio Carlos: no cargo desde 2012, é simultaneamente membro do Comité Central do Partido Comunista.
Não houve clamor
Depois de décadas a ouvirmos o “martelar” dos megafones da Inter em protestos diários, os ‘controleiros’ das greves e das acções de rua quase desapareceram do espaço público, dando lugar a uma estranha paz laboral. Recorde-se que durante o Executivo PSD/CDS a Assembleia da República semanalmente ‘recebia’ manifestantes, o mesmo acontecendo com a Residência Oficial do primeiro-ministro. Agora, estes protestos de trabalhadores e sindicatos eclipsaram-se.
Os sectores da Educação e da Saúde são exemplos claros deste “estado de graça” que os sindicatos ofereceram ao Governo de António Costa, e que permitiu ajudar a criar a ilusão de que o País tem melhores perspectivas de futuro, mesmo quando a realidade é que se estrangulou por completo o investimento público, se travou o crescimento e as atenções das instituições internacionais voltaram pela negativa a centrar-se em Portugal.
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