26 de setembro de 2012

Em frente

                      Querer é o primeiro passo,para a solução do problema
As nossas atitudes diante dos problemas da vida,determinam nossa vitória ou derrota


8 de setembro de 2012

“Ser do Sporting é como ir a um Clube de striptease”

E perguntam os sócios, concentradíssimos: porquê achar que ser do Sporting é o mesmo que ir a um Clube de striptease?
Porque não é qualquer um que lá entra, é um espaço eclético, refinado, de posse, de jet set. Requer algum esforço, intensa dedicação e extrema devoção, um dia poder, atingir essa glória.

O porteiro, é o presidente do clube. É nele que esbarro todos os dias mas, simpatizo, tento fazer com que goste de mim e a quem dou o meu voto de qualidade. É ele, quem todos os dias defende, com unhas e dentes, as cores da camisola. Confio no seu juízo, porque sem ele, não faria parte deste clube. É ele quem oficializa o meu estatuto de sócio.
Para me inscrever pago uma jóia, o consumo mínimo para fazer parte de tão restrito grupo. Com o tempo, vêm o regime de quotização ou senhas: uma quota – um jogo, toma lá – dá cá. Com o passar dos anos, o tratamento privado, o ser doutor, o leão de ouro com direito a garrafa de whisky e tudo.

Os preços dos bilhetes, esses variam. Vão do obsceno ao apenas exorbitante, dependendo da competição que quero assistir: liga dos campeões, primeira liga, ou taça.

Mas quando a nossa equipa sobe ao relvado, quando o grupo de trabalho saúda os espectadores, quando o jogo começa, não existem valores proibidos. É o palco de todos os sonhos.

A servir às mesas está o treinador, que me atende os pedidos, tira as dúvidas, me dá a táctica, me ensina o esquema. Sabe que não ganha o mesmo que as estrelas do clube mas respeita-me. Sabe que sem o carinho dos adeptos, e se houver assobiadela, corre o risco de ser substituído. E já foram tantos os empregados.
As claques fazem-se representar pelas despedidas de solteiros, grupos organizados, onde todos falam alto e ao mesmo tempo com um interesse comum: ver tudo menos o jogo.

O árbitro, sempre atento, a ver se meto mão à bola. Uma vez – cartão amarelo. À segunda – vermelho directo e o melhor mesmo é mudar de clube.

Os planteis, sempre riquíssimos e variados. Num ano o clube aposta no leste da Europa, no outro, abre os cordões à bolsa e manda-se para a América do Sul. Moldávia e Roménia versus Brasil e Brasil. Juventude e irreverência contra experiência e regularidade. Tudo ali, à minha espera, tal grande artista, de super levezinho, a equipar-se nos balneários.

No meio desta academia de valores, a prata da casa, a idade menor, os juniores, que de uma temporada para a outra, para mal dos meus pecados e por meia dúzia de tostões, segue a dança, rumando a destinos longínquos e promissores.

Sucedem-se assim os anos, neste clube.
São épocas de esperança, sem falhar uma jornada, indiferente aos maus resultados, sem nunca faltar à chamada, ocupando aquele lugar cativo e sempre com o mesmo pensamento na cabeça: desta é que vai ser! Mas não é. E nunca há direito, a mais um minuto que seja, de tempo de compensação.
A música, essa, é sempre a mesma. Não muda nunca. Sou o DJ e o disco. O meu clube é o hit de verão, a colectânea esperada, o top of the top: é o maior. Sei que existem outros bares na vizinhança que me deixam de trombas às vezes, outros nas redondezas, verdadeiras pérolas, mas, este é o meu bar, o meu clube, o meu amor.

Lá vou ficando, fiel e sem vacilar, dando tudo o que tenho, despido de preconceitos, agarrado ao verde e branco daquele varão de fé e desejo, deixando a nu a realidade, onde me contorço pela negação daquele prazer, daquele título que, estando ali tão perto, uma vez mais se serpenteia para o fundo do túnel numa exótica coreografia, insistindo em fugir das minhas mãos a sete pés.

Passo assim os dias, indo aos treinos, sonhando, acreditando, prevendo, suspirando que “hoje é que vai ser!”. Sempre que tal não acontece, e tantas que são essas vezes, esfrego as mãos nos calos da certeza de que foi apenas mais uma jornada que correu menos bem.

E como sabe bem desabafar no flash interview do café do bairro, com os amigos, cúmplices de clube e de assiduidade – contar na primeira pessoa o que correu bem, o que correu mal, por quanto correu mas, com a cabeça já na jornada seguinte.

Só com um milagre haverei de materializar em conquista o esforço de tanta jornada, de tanta época. Passam-se anos, décadas, um jejuar infinito, eis que quando e já quando ninguém acreditava ser possível, no mais privado dos meus sonhos, o barulho ensurdecedor do rugido de uma rolha a fugir de uma garrafa do champanhe mais caro, dá-me o primeiro lugar, dá-me o campeonato. Há leão! Sou finalmente o maior, o melhor dos melhores. A liga já cá canta, ganhei este campeonato, e este, já ninguém mo tira. Custou mas, que sabor teve esta conquista. A prova que enquanto há visa, há esperança. E volto a fazer parte do maior clube do mundo. Festejo até de manhã, achando-me dono de tudo sem me lembrar de nada. E sem um tostão no bolso, lá vou eu trabalhar, ainda bêbado do fim-de-semana, na segunda, a circular de taça na mão.

Saudações Leoninas

André Ferreira
Fonte

3 de setembro de 2012

Caça Talentos

               Aurélio Pereira homenageado
Mais uma justa homenagem a um dos nossos
                          leões de ouro 

Entrevista dada ao DN há 4 anos atrás:

“Academia não trata só dos pés,trata também da cabeça”

Sempre que se fala do sucesso do sector de formação do Sporting, há um nome salta à vista: Aurélio Pereira, responsável pelo recrutamento. Criou este departamento em 1988, mas, mesmo após 20 anos nesta área, mantém um vício: não é “capaz de passar um local onde estejam miúdos a jogar futebol sem parar o carro para ver”.

O Sporting é um clube formador. O que é isso de formar jogadores?
É encontrar jovens com habilidade natural. E que tipo de jogador formamos na Academia? Com cabeça, tronco e membros. O número de ingredientes que contribuem para o sucesso é menor dos que levam ao insucesso. Hoje temos todas as condições, com uma equipa extraordinária de pessoas e onde se respira um ambiente de sã camaradagem, e isso passa para os jogadores. Mas não podemos ignorar aquilo que se fez sem Academia.
Que atletas entram na Academia?
Aqui só entram bons jogadores e talentos. Mas os talentos não são completos e os bons jogadores, com trabalho, atitude, perseverança, auto estima e disciplina, podem chegar a ser grandes jogadores. É este o grande desafio, porque os talentos passam por aqui de uma forma rápida e não é possível segurá-los. Nenhum clube em Portugal tem capacidade para manter um Ronaldo ou um Nani por muito tempo. Depois há dois tipos de talentos, os que são completos, com cabeça, tronco e membros, e aqueles a quem falta cabeça.
A que idade se descobrem?
É sempre possível ver talento aos 7 anos, até pela maneira como trata a bola. A primeira vez que eu vi o Dani jogar estava de férias com a família em Tróia e vi uma criança a brincar com uma bola, abeirei-me dele e foi aí que tudo começou. Ele tinha 7 anos, era um talento fantástico.
É esse o seu trabalho?
É esse o meu vício. Eu não sou capaz de passar um local onde estejam miúdos a jogar futebol sem parar o carro para ver. Faz parte. Mesmo quando vou fazer exercício, primeiro vou ver quem está a jogar futebol. De vez em quando lá aparece um miúdo.
É assim que recruta?
Não. Em criança fui treinar ao Sporting juntamente com quatro amigos e quando chegamos a Alvalade estavam lá cerca de 800 miúdos. Havia duas pessoas a mandar seguir para nos equiparmos e apercebi-me que só estavam a entrar os maiores e os outros iam para casa... só fiquei eu. Ver os miúdos a voltar para casa de lágrima no olho e pé descalço marcou-me profundamente. Era uma forma de seleccionar com a qual eu jamais estaria de acordo. Curiosamente, passados alguns anos estava eu do outro lado a escolher e a mandar para casa. Só que comigo jamais alguém foi para casa sem treinar, nem que eu tivesse de estar ali até à meia-noite, pois prefiro um grande jogador a um jogador grande.
Como se descobre um talento?
Fazemos a selecção muito cedo. Detectar é procurar e hoje temos já uma estrutura organizada de observação a todos os níveis. Tudo o que são miúdos a mexer nós observamos, depois seleccionamos aqueles que têm uma excelente relação com a bola.
Quem faz esse trabalho?
Os chamados olheiros e observadores que fazem a cobertura total do País, tal como fazem os nossos adversários. Temos uma grande competição na escolha dos atletas. Normalmente, o recrutamento faz a detecção, depois a parte técnica aprova ou não em função daquilo que vê. Porque uma coisa é vê-los a jogar no seu meio, outra é ver como se comportam a jogar com e contra os que já cá estão. Não podemos é deixar que o jogador sinta que vai fazer um exame e que pode chumbar, temos de o integrar, esse é um factor decisivo. Hoje, o atleta é mais fraco psicologicamente do que era no passado. Um jogador superprotegido pelos pais não vai dar seguramente um grande jogador. Já o jogador oriundo de famílias onde não têm tempo para isso é mais forte, mais resistente.
É por isso que é importante ter um Gabinete Psicopedagógico?
Os clubes têm de ter capacidade para poder dialogar com os pais e eu sou normalmente a primeira cara que a família vê. Por vezes querem entrar mais na esfera desportiva do que na sua, de educadores. Isto não é uma crítica aos pais, mas é assim que funciona. Quando um jovem não joga o tempo que o paizinho quer e eles mostram descontentamento, eu digo sempre que ele devia ir a pé a Fátima agradecer ter filhos numa instituição chamada Sporting, onde estudam, são acompanhados e sabem que estão em segurança.
“No Sporting o mau aluno não tem lugar.” Este é o lema?
Não, não é esse o lema. Criámos uma Academia essencialmente para formar jogadores, não vamos ignorar isso. A filosofia da Academia é essa. Quando escolhemos o nome de Academia Sporting em vez de centro de estágio não foi por acaso, porque a Academia não trata só dos pés, trata também da cabeça. Maus alunos, felizmente temos poucos.
Que talento descobriu mais cedo?
Foram dois: Futre e Ronaldo. Tinham a mesma paixão pelo jogo e as mesmas ganas de ganhar. Não paravam quietos enquanto não tivesse uma bola para brincar. O Futre, vi-o numa captação após o 25 de Abril. Jogava nos Estabelecimento Cancela. Fui ver um jogo e vi entrar aquele ratinho, que me impressionou, era muito mais pequeno que os outros, mal podia com a bola e que só sabia ir para a frente, nunca vinha para trás com a bola. Havia outro jogador que nos interessava, o Júlio. Trouxe-o para o Sporting e perguntei-lhe: “Quem é aquele miúdo baixinho que entra de vez em quando?” “É o Paulinho, mas ele não tem idade, mister, anda a jogar com a cédula de outro.” Pedi-lhe para o trazer um dia para um treino e num exercício ele passou com uma velocidade estonteante com a bola entre os cones. Chamei logo o César Nascimento, treinador dos juvenis, e ele ficou com os olhos arregalados.
E o Cristiano Ronaldo?
No primeiro treino que ele fez impressionou logo o Osvaldo Silva e o Paulo Cardoso, que me aconselharam a ir vê--lo. E realmente o miúdo impressionou-me, ainda por cima a treinar com jogadores mais velhos. A dada altura demonstrou um carácter fortíssimo: estava a ser marcado por um colega mesmo em cima e ele vira-se para trás e diz: “Ó miúdo, tem calma.” Já não foi preciso ver mais. Eu não podia deixar ir embora o miúdo com medo que me apontassem o dedo mais tarde porque gastei cinco mil contos mal gastos.
Satisfaz a evolução dos jogadores que chegaram à equipa principal?
Sim. Estão praticamente na fase final de implementação no futebol profissional. É sempre importante terem esta estabilidade, dentro da instabilidade que acontece no futebol jovem logo a seguir ao sucesso repentino. O treinador [Paulo Bento], que os treinou antes e depois, tem sabido gerir bem a sua integração no futebol profissional e as expectativas dos próprios jogadores e adeptos. As pessoas têm de ter paciência e deixar crescer os atletas. Há casos que crescem mais depressa, outros que demoram mais.
Paulo Bento é o homem certo?
Ele tem todas as características, porque soube beber experiência no futebol jovem. Um treinador que nunca tenha passado pelo futebol jovem tem algumas dificuldades em lidar com aquele menino que já tem um protagonismo grande em termos mediáticos quando chega a profissional. Julgo que o Paulo Bento, primeiro porque conhece os atletas e estes lhe têm respeito e também porque é líder por natureza, sabe lidar muito bem com isso. Um treinador tem de saber o que é a formação e o nosso sabe.
E tem jogadores formados no clube desde a baliza ao ataque...
Dizia-se que o Sporting há muito que não formava um guarda-redes, que não tinha centrais, que não tinha avançados e era só extremos. Isso prova que não é verdade. Hoje na formação fazem-se reflexões e treino específico. Sentimos da parte da administração confiança e estabilidade para evoluir.
Imagina o Sporting sem formação?
Se imagino? Não posso adivinhar o futuro. Quando se faz uma academia não se pode voltar atrás. Mas quem traça a estratégia é a administração.
Quaresma e Ronaldo jogaram juntos no Sporting. Que diferenças encontra entre eles?
As diferenças mantêm-se e têm a ver com a forma como jogam. Quaresma joga numa posição mais fixa pelas faixas e o Ronaldo tem a capacidade de jogar no campo todo. Tomara o Sporting formar sempre jogadores que fossem parar ao Inter e escolhidos pelo Mourinho. A integração no futebol sénior diz respeito ao futebol profissional e nesse aspecto o Manchester faz melhor a integração faseada. Em Portugal, quem tem um Quaresma e um Ronaldo não os pode pôr no banco, o United pode. Nessa fase, em que o jogador não tem maturidade e tem o mundo inteiro interessado, há um deslumbramento. A partir de certa altura, o jogador já não está aqui, está com a cabeça noutro lado. O Sporting tem sido o clube que mais lida com isso e julgo que o Paulo Bento tem sabido gerir esses problemas.
Aos 16, qual era mais evoluído?
Cresceram lado a lado. Naquela altura, se têm ido os dois para o Manchester United, teria feito bem ao Quaresma. Psicologicamente são ambos muito fortes, uma característica que se encontra muito nos chamados miúdos de rua, resistentes, sem medo de assumir o erro, sem fantasmas. Muitas vezes, quando os jogadores falham um lance, têm medo de voltar a tentar, eles não. Erram uma vez e logo a seguir vão procurar corrigir o erro. Eu gostava muito que assumissem o erro, porque hoje em dia é preciso saber quando o individual é importante para o colectivo.
Quaresma pode ganhar o seu espaço na história com a trivela?
Eu disse isso há muito tempo. O que ele faz hoje com a trivela fazia aos sete anos. Não é uma coisa que ele se tenha lembrado de fazer um dia, está na sua génese por causa de ter os pés metidos para dentro. Com a prática tem melhorado e está a ter êxito. Hoje já não resiste a usar a trivela, mesmo quando não precisa. São características que por vezes fazem a diferença. O Garrincha tinha uma perna torta e isso fazia diferença.
Ele sonha ir à Gala da FIFA que premeia os três melhores jogadores. Acredita que vai chegar lá?
O Quaresma neste momento ainda procura o seu espaço no Inter e no futebol italiano, onde uma das características é defender bem. Quando ele estiver instalado, porque não pensar nisso? Vi o jogo com o Milan e as entradas intimidatórias que sofreu... Quando lhes ganhar o respeito será mais fácil para ele impor todo o seu futebol.
Ver Ronaldo, Quaresma, Nani e Simão na selecção é um orgulho?
Claro. A última vez que jogaram todos juntos, se bem me lembro, foi contra o Brasil, e Portugal ganhou.
Nesse jogo Ronaldo jogou na frente. Ele é um bom avançado?
É. Não me parece um típico número nove, posicionado na área, mas é um bom avançado. Joga bem com os dois pés e tem bom jogo de cabeça. porque não jogar a avançado?
É o melhor do mundo?
É evidente.

Perfil de Aurélio Pereira
- Nasceu em Alfama, Lisboa, a 1/10/1947 (61 anos)
- Jogou no Sporting (juvenis e juniores),no Operário e Futebol Benfica
- Treinou o F. Benfica _e todas as categorias jovens do Sporting
- Em 1988 criou o Departamento de Recrutamento do Sporting