A nova situação, trazida pelos ataques terroristas em solo europeu, corresponde a uma nova configuração na geometria variável da crise permanente do Médio Oriente. Actualmente, todas as manchas conflituais que ocorrem naquela zona são secundárias dada a gravidade da situação na Síria. Ali se está a reproduzir, do modo mais dramático, o clássico antagonismo entre grandes impérios que ficou na história sob a designação de Guerra Fria.
São incontáveis e de vária ordem as razões que concorrem para a situação que se vive na Síria e que agora se reflectem na Europa. Refiram-se sumariamente as principais.
O envolvimento dos EUA no Médio Oriente tem sobretudo a ver com o acesso às jazidas de petróleo, ao seu controle e ao transporte do crude. Depois da II Guerra Mundial, esse envolvimento ficou marcado por dois eventos determinantes: a fundação do Estado de Israel e a deterioração das relações com o Irão, a partir de 1979, devido à perda do aliado de Washington, o Xá Reza Pahlevi, deposto pela Revolução Iraniana dos ayatollah. O novo poder teocrático de Teerão considerou que os EUA tinham um desejo excessivo de hegemonia quanto ao petróleo e restringiu a acção americana no país, um dos principais produtores mundiais de crude. Seguiram-se uma série de episódios, alguns violentos, que se saldaram pelo corte de relações entre os dois países.
Actualmente, o poder de Bashar Al-Assad, na Síria, é apoiado pelo Irão, não só por razões estratégicas mas também, porque o alawismo xiita de Assad é homólogo do xiismo no poder em Teerão. Bastava esse facto para o regime sírio ter a antipatia norte americana. Além disso, o movimento anti-israelita Hezbolah, sediado na Síria e no Líbano, é também apoiado pelos iranianos, o que potencia a animosidade de Washington, aliado incondicional dos israelitas.
Como se isto não bastasse, o grande aliado do Irão e da Síria de Assad é a Rússia, que tem em Tartus, na costa síria, uma base militar naval, a única de que dispõe no Mediterrâneo. Para os interesses israelo-americanos, esta coligação é estrategicamente muito hostil, por razões económicas e militares.
Apoiando os interesses de Israel e dos EUA está a generalidade da União Europeia, e três nações muçulmanas de tendência confessional sunita, que é adversa ao xiismo: a Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar.
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