Não é ficção científica: os ‘robots’ de todos os tipos estão a chegar em força às economias mais avançadas do mundo. A indústria robótica foi o segmento empresarial que mais cresceu percentualmente em 2014, e estão a ser desenvolvidas novas máquinas todos os dias. Face a esta realidade, fará sentido o Ocidente continuar a apostar nas velhas políticas imigratórias e a receber milhões de trabalhadores sem qualificação?
O Japão e a Coreia do Sul incorreram na ira das hostes do “politicamente correcto” quando, neste mês de Outubro, os respectivos governos informaram que não tinham a menor intenção de receber vagas imigratórias como as que estão a inundar a Europa: antes de mais, porque não precisavam; depois, porque os cidadãos nunca as aceitariam.
No Ocidente, e especialmente na tonta União Europeia, as “cabeças pensantes” ficaram chocadas: afinal, tanto japoneses como coreanos debatem-se com um problema demográfico bastante mais severo do que Portugal, que já é considerado um caso preocupante. Como podiam recusar uma “injecção” populacional e um potencial auxílio em mão-de-obra?
De facto, a Coreia do Sul é, entre os países ricos do mundo, aquele que está a envelhecer mais rapidamente, com uma esperança média de vida extremamente elevada e uma idade de reforma muito baixa: um sul-coreano pode-se reformar, por inteiro, aos 58 anos, mas, em média, as empresas preferem oferecer a reforma aos seus trabalhadores aos 54 anos. Entretanto, do outro lado do mar do Japão, estima-se que um quarto da população japonesa já tem mais de 65 anos, número que continua a subir. E, contudo, embora tenham aplicado consideráveis recursos em políticas de estímulo à natalidade, nem o Japão nem a Coreia do Sul estão demasiado preocupados com o declínio populacional ou com o elevado número de pensionistas. Porquê? Simples: porque consideram que o futuro está na “automatização” da sociedade.
No dia 15 de Maio, o popular primeiro-ministro nipónico Shinzo Abe declarou que é necessário “disseminar o uso de robots desde as grandes fábricas a todos os cantos da nossa economia e sociedade”. No Ocidente foi ridicularizado, mas no Japão só recebeu aplausos. A indústria japonesa encontra-se extremamente avançada neste segmento. Se durante muito tempo as empresas e o Estado resistiram à automatização, para não criar mais desemprego (no caso do Estado) e para não desmantelar o poder de compra dos cidadãos (no caso das empresas), agora que a população activa está a diminuir o caminho parece claro: formação profissional e superior para os jovens, e ‘robots’ para substituir a mão-de-obra não qualificada.
Fábricas inteligentes
Segundo uma associação japonesa de promoção da robotização, integrada por 200 empresas, entre as quais a Mitsubishi, os ‘robots’ “têm o potencial para resolver problemas sociais, tais como a escassez de mão-de-obra e o excesso de horas de trabalho”, notando também que os ‘robots’ podem vir a melhorar drasticamente a produtividade nos sectores “industrial, de serviços médicos e cuidados à terceira idade, agricultura, construção e manutenção de infra-estrutura”.
A Coreia do Sul, sempre receosa dos comunistas (compreensível, tendo em conta o seu vizinho), anunciou no dia 21 deste mês que assinou um protocolo de 14 mil milhões de euros com a empresa Samsung para substituir todos os trabalhadores que emprega na China por ‘robots’ na própria Coreia. Os ‘robots’ terão de estar prontos até 2018, meta que a empresa espera alcançar. “Assim que robots a preços razoáveis cheguem ao mercado, podem ser usados como base para ‘fábricas inteligentes’ que vão inovar completamente o sector industrial”, anunciou o ministro do Comércio, Indústria e Energia sul-coreano.
O espectro do desemprego não preocupa qualquer dos dois países, pois o exigente sistema de ensino de ambos criou uma população extremamente qualificada em termos tecnológicos, e o trabalho criativo não será afectado pelos ‘robots’. Mais de 70% dos jovens coreanos e japoneses, por poucos que sejam, frequentam o ensino superior, estando a nova geração preparada para a revolução tecnológica.
Existe também algum interesse estratégico em desenvolver este sector: o Japão e a Coreia do Sul representam mais de metade da indústria robótica no mundo, e as vendas de ‘robots’ aumentaram 29% em 2014. Mas podem vir a ter competidores: as empresas norte-americanas, especialmente na Califórnia, estão a gastar milhares de milhões no desenvolvimento de ‘robots’ de todos os tipos. A Google já testou com êxito o projecto de um automóvel auto-guiado; uma empresa de produtos médicos, Corindus, desenvolveu um ‘robot’ que faz angioplastias com extrema precisão; e um par de engenheiros norte-americanos já está na fase de desenvolvimento final do “robot das alfaces”, uma máquina que permite fazer colheitas que anteriormente exigiam trabalho intensivo.
E, claro, certos produtos robóticos mais rudimentares já estão à venda nos nossos supermercados, como o Roomba, o ‘robot’ que aspira o chão enquanto a dona-de-casa vê a novela, ou o Scooba, que o lava. A famosa Bimby é essencialmente um ‘robot’, um dos raros produtos robóticos europeus, e nos supermercados as caixas automáticas são um primeiro sinal de robotização (mesmo que ainda exija participação humana).
Imigração: é necessária?
A Europa, pátria-mãe da revolução industrial, não está tão entusiasmada com os novos desenvolvimentos como o resto do mundo desenvolvido. O único país minimamente interessado em ‘robots’ é a Alemanha, que está a averbar um lucro simpático num sector que promete render milhares de milhões. Mas a União Europeia, como tal, apenas vai investir quatro mil milhões de euros em robótica nos próximos anos, uma parca quantia quando comparada com os 14 mil milhões só da pequena Coreia do Sul. A falta de investimento em robotização na UE é surpreendente, quando se considera que a própria Comissão Europeia admite que “integrar ‘robots’ com a indústria europeia ajuda-nos a criar e a manter empregos na Europa”.
Mas, exceptuando a Alemanha, os países-membros da União são a antítese do fulgor asiático e americano. Sucessivos governos socialistas insistem na velha fórmula de “mandar vir” mais imigrantes, geralmente de África, mas também do Médio Oriente e da região da Índia, para compensar a queda demográfica – em vez de apostarem num investimento sustentável em educação e no aumento da produtividade. Cerca de 70 por cento dos europeus ainda acreditam que os ‘robots’ “roubam empregos”, apesar de um estudo mostrar que cada ‘robot’ que foi comprado criou três novos postos de trabalho.
É certo que a imigração tradicional tem dado um ímpeto significativo às economias ocidentais. No entanto, na prática, as políticas migratórias de esquerda acabam por afastar-se das realidades. É que a aceitação de mão-de-obra estrangeira devidamente planeada só resulta positivamente se corresponder a reais necessidades nacionais: torna-se um desastre quando usada para fins meramente políticos e revela-se ruinosa quando se reduz ao campo estritamente humanitário.
Os Estados Unidos beneficiaram da imigração como talvez nenhum outro país beneficiou, mas no século XXI a sua prioridade é aliciar os imigrantes com formação superior e qualificações elevadas a fazer a sua casa, e talvez a sua empresa, nos EUA. Os portugueses deveriam ser receptivos a essa realidade: muitos dos nossos jovens mais bem qualificados foram “captados” pela Alemanha, pelos EUA e pelo Reino Unido.
No entanto, estas políticas de imigração obedecem a normas de respeito pelas necessidades nacionais, sem falar no respeito pela cultura e leis dos países de acolhimento. A vasta maioria dos portugueses que tiveram sucesso em emigrar nos últimos anos fê-lo ao abrigo de programas de recrutamento de jovens qualificados, como enfermeiros ou engenheiros. E, no entanto, Portugal e grande parte da Europa continuam a apostar numa imigração desorganizada, geralmente de pessoas sem qualificações.
Os académicos que se debruçam sobre o assunto consideram que existem duas matrizes económicas possíveis no futuro próximo: uma delas intensiva em mão-de-obra barata, mas pouco produtiva, e a outra baseada em conhecimento, produtividade elevada e mecanização. A médio prazo, considera-se que a adopção dos ‘robots’ será como a dos automóveis: inicialmente, os modelos mais avançados só estarão disponíveis para as classes mais altas. Mas assim que os ‘robots’ se massificarem, não há resposta para o que se fará com a mão-de-obra não qualificada excedentária que a Europa importou.
Pior, estima-se que os países desenvolvidos precisarão de uma política de imigração mais resistente e bem organizada, pois o desemprego irá subir nos países menos desenvolvidos.
A crise que se avizinha
A vantagem competitiva de países como a Tailândia e a Indonésia foi, durante décadas, a vasta massa de trabalhadores que aceitavam um salário de miséria. Mas também ali as mudanças já estão em curso: um relatório da Bloomberg de 21 de Outubro deste ano estima que 27 por cento de todos os empregos na Tailândia vão ser destruídos devido à tecnologia e à robotização. A Indonésia poderá perder 21 por cento, as Filipinas 20 por cento, e até mesmo a Índia, terra do “outsourcing” informático, poderá perder 5% dos seus postos de trabalho.
E quanto à China, “paraíso” do modelo de mão-de-obra barata? Os chineses são, neste momento, dos maiores importadores de ‘robots’ industriais do planeta, numa tentativa desesperada de não ficar para trás, embora ainda estejam muito atrasados em termos de automatização. Ajuda que o próprio Reino do Meio esteja a braços com uma gravíssima crise demográfica e precise de um rápido aumento de produtividade. O Banco Asiático de Desenvolvimento considera que as “economias que invistam em providenciar educação de alta qualidade são as que vão ser menos afectadas pelas inovações disruptivas, e são as que vão estar mais bem preparadas para as aproveitar”, ressalvando que “engenheiros, designers gráficos e operadores de impressoras 3D vão ter uma procura elevada, enquanto que tarefas simples e de rotina vão largamente ser eliminadas”.
Milhões de novos imigrantes chegaram à Europa em 2015. Embora uma parte tenha algumas qualificações, a vasta maioria não as tem. Estima-se que a imigração ilegal e legal dispare em 2016. África caminha para (mais) uma crise profunda devido à queda do preço das matérias-primas, e há poucos sinais de que a instabilidade no Médio Oriente vá terminar. A própria economia mundial está a abrandar e, no mínimo, uma parcela dos 4 mil milhões de pessoas na miséria irá tentar a sua sorte e imigrar para as zonas desenvolvidas do planeta. Os países mais ricos, também eles em dificuldades económicas, não têm capacidade para os acolher a todos. No entanto, o discurso oficial é de que a Europa precisa de mais e mais e mais imigrantes.
Os japoneses não hesitam na sua abordagem. Ajuda humanitária sim, e os nipónicos são os maiores contribuintes. O Império do Sol Nascente já doou mais dinheiro para ajudar os refugiados sírios do que a própria Arábia Saudita, e é um dos principais investidores em projectos humanitários em África. Mas quando foi questionado sobre as políticas de imigração do Japão, onde apenas 11 em cada 5.000 pedidos de asilo foram aceites, Shinzo Abe proclamou que “há muitas outras coisas que podemos fazer antes de aceitar imigrantes”.
O futuro está ao virar da esquina
Segundo o Boston Consulting Group, os ‘robots’ japoneses poderão cortar em 25 por cento os custos de produção, ao mesmo tempo que melhoram a produtividade e aumentam os ordenados da população. O debate sobre como conciliar estas máquinas com os níveis de vida das populações será intenso. Durante uma boa parcela da revolução industrial, a qualidade de vida das populações, especialmente das que vinham dos meios rurais, chegou a cair em vez de aumentar. Sem regulação ou planeamento, os ‘robots’ podem ter exactamente o mesmo efeito.
Nada que assuste os principais defensores da automatização da sociedade. Entre as várias propostas para as sociedades mais avançadas, temos a ideia de um dia de trabalho de 6 horas ou um IRS cobrado por unidade robótica. Em declarações à revista americana “The Diplomat”, Lem Fugitt, especialista em robótica e gestão, afirmou que “os ‘robots’ são um bode expiatório neste debate, as pessoas não estão a ser ameaçadas pelas máquinas em si, mas pelas decisões da sociedade e dos governos”.
É possível estabelecer um paralelo com os explosivos de Alfred Nobel, que serviram tanto para o bem como para o mal. Já Uwe Haass, secretário-geral da Associação Europeia de Robótica, apela aos europeus para investirem nesta tecnologia, afirmando que a robótica irá “criar novos empregos porque irá tornar possíveis novos sectores de negócio”. Haass considera que a entrada no mercado de ferramentas robóticas ligeiras que assistam o trabalho artesanal irá permitir que as pequenas e médias empresas, muitas delas artesanais e propriedade de famílias, compitam com os fabricantes asiáticos, baseados em mão-de-obra barata e produtos de fraca qualidade.
O futuro está ao virar da esquina. Os pensionistas irão exigir que as promessas que lhes fizeram, e para as quais descontaram, não sejam defraudadas. Os actuais números, no entanto, não somam uma solução, não há jovens suficientes para sustentar os idosos. Mas, como já foi demonstrado no nosso jornal pelos académicos John C. Edmunds, Charles Winrich e Mark F. Lapham, um aumento da produtividade certamente vai-nos permitir superar o problema, sem condenar os nossos idosos à miséria.
Os ‘robots’ não são uma solução mágica, mas também não o é a imigração; e os robots têm a vantagem de se adaptarem a qualquer cultura que os compre, para além de não precisarem de subsídios e apoios para se integrarem. Existe a necessidade de se fazer um grande debate antes de a esquerda nos impingir mais uma das suas soluções mal pensadas que, inevitavelmente, acabam em confrontos sociais, miséria e bancarrota. Os ‘robots’ são apenas uma ferramenta, mas uma ferramenta muito poderosa à qual a Europa não está a dar uso.
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