23 de junho de 2016

Falta de Crédito

O primeiro-ministro lamenta que os bancos portugueses não concedam dinheiro à economia através das pequenas e médias empresas, isto apesar de terem sido capitalizados por dinheiros públicos.
Realmente deve ser muito ingénuo, ou muito estúpido, pensar que a banca privada poderia financiar a economia real depois de ter recebido todas as benesses, todo o capital que pretendia, e de beneficiar de todas as isenções; a banca privada procura o lucro e, com o beneplácito e suporte da Europa, usa os dinheiros do Banco Central Europeu concedidos a menos de um por cento, para emprestar ao Estado português com juros que já atingiram os mais de sete por cento. É fácil, barato (para a banca) e dá milhões, não é preciso mais nada, a economia real é apenas paisagem, esquecendo que quando não existir economia deixa de existir país e que os bancos se tornarão redundantes.
É evidente que os contratos de recapitalização, feitos com dinheiro dos contribuintes, teriam de ser bem elaborados, e rácios elevados de crédito às empresas deveriam ser obrigatórios para os bancos que se financiaram com fundos públicos.
Sobre a Caixa Geral de Depósitos, a sua má gestão criou 400 milhões de euros de prejuízos em 2012 [e muito mais depois]. Emprestar a amigalhaços e a empresas do regime, e maus investimentos, conseguiram colocar em causa um banco muito sólido. Tentaram compensar os prejuízos com golpes de segunda, como o de usar os clientes, depositantes comuns, na transformação subreptícia dos seus cartões em cartões de pagamento diferido, para extorquirem mais umas comissões aos comerciantes; mesmo contra as directivas do Banco de Portugal.
Em vez de facilitar a vida das pequenas empresas, a administração da Caixa usa de expedientes de pequeno vigarista para sacar ainda mais à pequena economia. O Estado é o accionista da Caixa e seria natural que a administração seguisse as directrizes do governo. Por outro lado, não se percebe como o Banco do Estado não comprou volumes consideráveis de dívida pública quando esta estava a preço de saldo, para ganhar juros astronómicos face ao valor de compra, como tem feito o Banco Central Europeu, cujos lucros com a operação parece que já ascendem a seis mil milhões de euros, só com a dívida portuguesa.
Estes lucros da Caixa poderiam ser multiplicados se fossem aplicados na economia, ou evitariam os cortes de vencimentos e pensões se devolvidos ao accionista. Parece que a administração da Caixa é constituída por amadores de vistas curtas, algo que não espanta, uma vez que são geralmente ex-políticos, nomeados por outros amadores irresponsáveis, e que sabem tanto de banca como eu sei de lagares de azeite!
É inacreditável a falta de visão estratégica e a visão curta de banqueiros, públicos e privados, e de políticos. Empobrecer a economia para que esta assente em miséria e baixa qualificação, arrastará a longo prazo o empobrecimento dos próprios bancos e a do País. Tudo isto é triste, tudo isto é fado. O fado de sermos governados por garotos impreparados.
O que é estranho nesta crónica é que tenha sido escrita e publicada em 2013. Era sobre a situação da banca de então, hoje estamos em 2016 e ainda está actualizada: os prejuízos da Caixa Geral de Depósitos exigem que se tape o poço sem fundo com 4.000 milhões de euros!
                 http://jornaldiabo.com/category/opiniao/manuel-silveira-da-cunha/

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