20 de junho de 2016

É tudo uma questão de €


Portugal e Espanha:comparação de salários,rendimentos e preços


O trabalhador espanhol ganha mais do que o português, tem uma carga fiscal média mais baixa e paga menos contribuições para a Segurança Social. Resultado: os espanhóis ficam, em média, com mais 580,44€ do que um português para se governarem durante o mês – e ainda gastam menos dinheiro a adquirir os produtos essenciais para viver. Não admira que a sua Economia seja mais pujante do que a portuguesa e que os espanhóis tenham um melhor nível de vida líquido do que o nosso. 
Muito se tem falado sobre a questão comparativa da produtividade e do desempenho das economias dos vários países, tentando sempre encontrar defeitos em Portugal e qualidades no estrangeiro.
Por outro lado, muitas comparações são feitas entre Portugal e outros países, pecando as mesmas, normalmente e salvo raras excepções, por serem parcelares e apenas referidas a um ou dois indicadores.
Cabe-me tentar ir um pouco mais longe e verificar se as análises parcelares que têm sido feitas pelos diversos partidos políticos são isentas, ou se, pelo contrário, são tendenciosas e variam consoante estão no Governo ou na Oposição.
Vejamos então o que se passa na realidade e não nos vários, e variáveis, discursos políticos.
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O salário médio bruto nos 28 países da União Europeia (incluindo, portanto, os países do Leste europeu) é de 1.995 euros por mês, sendo em Portugal de apenas 986 €.
Em termos do “ranking”, Portugal ocupa a 18ª posição, no cômputo dos 28 Estados que integram a União Europeia. Mas se consideramos apenas os países da Europa Ocidental, com quem todos gostam muito de se comparar, então Portugal é o país em que se verifica o salário médio bruto mais baixo.
Assim, como se pode verificar no quadro 1, os países onde o salário médio é mais alto do que em Portugal são os seguintes, com a Dinamarca ocupando o 1º lugar:
Captura de ecrã 2016-06-20, às 17.25.58
Os países com salários mais baixos são 10, todos eles da Europa de Leste, sendo que o país onde se paga o salário médio mais baixo é a Bulgária.
Caso para dizer que a nossa falta eventual de competitividade, enquanto País, não está nos salários mas sim noutros factores de gestão, tais como a Organização e o Planeamento.
Uma clarificação para referir que por salário médio bruto entende-se o salário antes dos descontos para a Segurança Social, para o IRS e quotizações. Assim, Portugal tem o salário médio bruto mais baixo da Europa Ocidental.


                       Comida cara para ordenados baixos

O preço dos alimentos em Portugal é excessivamente elevado quando se tem em consideração o anémico salário médio nacional. Mas o que se podia esperar de um País que apenas é auto-suficiente em vinho, e importa quase tudo o resto? 
A mais recente recolha de dados da União Europeia sobre consumo acaba de confirmar aquilo que milhões de donas-de-casa portuguesas estão cansadas de saber: a comida está cara demais para as nossas posses.
Na realidade, segundo o estudo da Eurostat, Portugal até se encontra na média europeia de preços na maioria dos segmentos alimentares; o problema reside no facto de os nossos salários não seguirem o mesmo padrão. O índice de preços da comida em Portugal encontra-se quase ao mesmo nível da Holanda, da Alemanha, e supera a Espanha, apesar de nestes países se auferirem ordenados superiores.
Embora em Portugal se fale bastante em ordenados médios, a elevada desigualdade de rendimentos que se desenvolveu nos últimos anos oculta a miserável realidade dos rendimentos portugueses. Como desenvolvidamente referimos nas páginas seguintes, o salário médio bruto (antes dos descontos) no nosso País é de 986 euros – o que equivale a dizer que, descontados os impostos e taxas, o salário médio líquido é de cerca de 700 euros mensais – muito menos do que um trabalhador espanhol leva, limpo, para casa: quase 1.300 euros.
Estes números revelam mais uma das irregularidades económicas dentro da União Europeia. Nos países onde a comida é mais cara, esse valor alcança o dobro dos países onde a comida é mais barata. A disparidade de rendimentos, no entanto, é muito mais elevada do que este valor, o que significa que, mesmo tendo um custo de vida mais elevado, o esforço financeiro para comprar comida nos países mais ricos não deixa de ser menor.
Na Suécia, por exemplo, o preço da comida é 32 por cento mais elevado do que em Portugal, mas os ordenados são 221 por cento mais altos. Ou seja, cada sueco recebe três vezes mais do que um português, mas tem apenas um acréscimo de 32 por cento no preço da sua comida.

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