Os esforços dos políticos europeus de regularização da crise migratória continuam questionáveis, enquanto movimentos anti-imigração ganham força.
A enorme onda de refugiados e imigrantes que tem chegado à Europa nos últimos meses, provenientes da Síria, do Afeganistão, do Iraque e de outros países muçulmanos, está produzindo fricções e descontentamento nas populações dos países do Velho Continente, não obstante a política oficial de tolerância e multiculturalismo presente em quase todas as democracias da UE, com excepção talvez da chamada Nova Europa, os países de Leste.
Em muitos países, os partidos anti-imigração estão ganhando força, seja a Frente Popular na França, o Partido da Liberdade na Áustria (que nas últimas eleições locais obteve mais de 30% dos votos), o Partido Popular na Dinamarca (segundo lugar nas eleições gerais), o partido Verdadeiros Finlandeses na Finlândia, o AfD na Alemanha, sem falar na Aurora Dourada na Grécia, na Liga do Norte na Itália ou do Partido Suíço Popular (SVP), entre outros.
Na Alemanha, o movimento anti-Islão Pegida organizou no passado dia seis manifestações em várias cidades europeias como Amesterdão, Praga, Calais, Varsóvia e Birmingham. Calais, onde se concentram cerca de 5.000 imigrantes para tentarem passar ilegalmente para o Reino Unido através do Túnel da Mancha, foi a cidade que registrou mais participantes do protesto anti-Islão.
© SPUTNIK/ VLADIMIR SERGEEV
Mas o tema não é apenas motivo de manifestações de rua, é também alvo de discussão inflamada na mídia, por exemplo em França, e ainda tema para obras de investigadores e cientistas políticos.
Refira-se apenas um deles, Alexandre del Valle, cientista político e jornalista franco-italiano, especializado em radicalismo islâmico, terrorismo e nas relações Ocidente-Rússia. Ele é pesquisador associado no Instituto Choiseul, sendo colaborador em várias mídias como o Atlantico, France Soir ou Politique Internationale.
Um dos seus primeiros livros tem um título sugestivo: “O Islamismo e os Estados Unidos: Uma Aliança contra a Europa”, no qual ele abordou a forma como os serviços secretos dos EUA utilizaram os Mujahedeen afegãos na sua luta contra a União Soviética.
A sua segunda obra, de 2002, intitula-se “O Totalitarismo Islâmico ao Assalto às Democracias”.
O livro seguinte, de 2009, chama-se simplesmente “A Islamização da Europa”.
O autor publicou ainda outras obras, nomeadamente o livro “O Islão Radical é uma Arma de Destruição Massiva” (2013).
“Há dez anos, o perigo de a Europa se tornar, dentro de uma ou duas gerações, maioritariamente islâmica era uma fantasia. Hoje em dia, é uma perspectiva bastante realista (embora não certa), porque a Europa renunciou aos seus valores judaico-cristãos e está dominada, por uma cultura de culpa e de morte, por um suicídio civilizacional colectivo (…) A nova realidade da islamização demográfica, cultural e psicológica está a constituir-se em toda a Europa, com 'provas de força', provocações ou escândalos provocados pelas organizações islâmicas subversivas, sob pretextos como o véu islâmico, a Burqa, as caricaturas de Maomé ou os minaretes na Suíça. Através destes escândalos mediáticos — aliás muito bem preparados —, as organizações islâmicas pretendem instaurar um clima de terrorismo psicológico e exercer pressão sobre os governos europeus e sobre uma opinião pública culpabilizada”, escreve o autor no livro “A Islamização da Europa”.
Curiosamente, Alexandre del Valle defende a ideia de aproximação entre Rússia e Europa para criar um novo bloco geopolítico, necessário para combater a ameaça islamista.
“Os estrategistas da OTAN, tal como nossos líderes intelectuais e adeptos de uma concepção desenraizada do Ocidente, vêem na Rússia de Putin a última nação europeia que se atreve a desafiar o que eu chamo de "cosmopoliticamente correto". Eu sempre lamentei o fato de que a Rússia ainda é retratada como um perigo. Certamente, ele está longe de ser impecável, mas muitas vezes esquecemos que Vladimir Putin começou sua carreira política com o "clã pró-ocidental-liberal" de São Petersburgo, sob a proteção do ex-prefeito de São Petersburgo Anatoly Sobchak, e ele só se tornou hostil para com o Ocidente a partir de 2004, em resposta à guerra do Iraque, voltada contra o aliado de Moscou e, especialmente, após as "revoluções coloridas" apoiadas pelo Ocidente na Geórgia e na Ucrânia para desestabilizar a vizinhança da Rússia”, disse ele na referida entrevista.
Em Portugal
Em Portugal a islamização (ainda) não é um problema. Com uma tradição antiga de emigração e de integração de imigrantes, os portugueses não se preocupam muito com o tema. No entanto, a decisão do governo de acolher parte dos refugiados do Oriente Médio de acordo com as cotas propostas por Angela Merkel, tem levado a algumas discussões na mídia e a uma maior visibilidade do Partido Nacional Renovador (PNR), até agora “marginalizado” pela intelectualidade e pela mídia. Considerado como tendo pouquíssima expressão na sociedade, a verdade é que o seu apoio praticamente duplicou nos últimos anos.
Esta força política tem realizado diversas manifestações na capital. A última decorreu no passado sábado (13), no centro de Lisboa.
Cerca de uma centena de pessoas manifestou-se na Praça do Martim Moniz.
“Mais uma vez, queremos alertar os portugueses para o perigo da invasão islâmica do velho continente, que também afetará Portugal, e também alertar para as injustiças cometidas ao dar-se aos invasores aquilo que é negado aos nossos”, indica um comunicado do partido.
"As violações, os desacatos, as agressões, intimidações, o Islão está a invadir a Europa, mas os primeiros culpados nem são os invasores, eles estão no papel deles, os primeiros culpados são os nossos governantes, que não só estão a permitir esta invasão, como estão a incentivá-la (…) É um protesto contra a islamização da Europa, que representa um perigo gravíssimo e que muitas pessoas ainda não estão a perceber", afirmou o líder do partido, em declarações aos jornalistas.
A pouca representatividade deste partido muito provavelmente não lhe dará influência na sociedade, mesmo a médio prazo. Mas não deixa de chamar a atenção para um problema que, sem qualquer dúvida, terá que ser muito bem refletido pelos países europeus.
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