1 de abril de 2016

Rúgido à família sportinguista

«Onde é que já vi isto?»

Quem nasceu no final dos anos setenta, início de oitenta, terá certamente assistido à ascensão do porto de terceiro grande a detentor da hegemonia do futebol português, entre 1994-2013. No espaço de 19 anos, o clube da fruta ganhou o campeonato por 14 vezes, a que juntou uma liga dos campeões, uma taça UEFA e uma Liga Europa.
A forma como os portistas atingiram o patamar mais alto do nosso futebol recente deveu-se a um conjunto de circunstâncias que foram resumidas na palavra “sistema”. O “sistema” consistia, grosso modo, em dois tipos de controlo: directo, através do domínio de sectores-chave do dirigismo futebolístico, como o conselho de arbitragem e de disciplina. Indirecto, através do poder económico, plasmado no aparecimento e ascensão meteórica da OLIVEDESPORTOS, que monopolizou a gestão dos direitos televisivos de todos os clubes profissionais de futebol, do qual dependiam para gerir os seus orçamentos deficitários. A eficácia do sistema ficou demonstrada ao longo dos vários anos em que funcionou: arbitragens parciais e tendenciosas em jogos-chave do campeonato, nomeadamente no início da época, quando as equipas ainda não estão a jogar a 100%, e nos jogos grandes, ainda sem a cobertura mediática dos dias de hoje. Jogos absurdamente fáceis contra a maioria dos clubes ditos “pequenos” do nosso campeonato, cujo maior exemplo era o Salgueiros, equipa que fazia a vida negra a benfica e Sporting mas acabava sistematicamente goleada pelo porto. Com a competição caseira completamente controlada, os portistas podiam-se virar para as provas europeias, bem folgados, o que em parte explicava o seu sucesso na Europa, com o respectivo retorno financeiro.
O apito dourado pôs a nu as engrenagens do sistema portista, devidamente esmiuçadas pela comunicação social, criando um vazio no poder. Mas em vez de assistirmos à moralização do futebol português, o que vimos foi o assalto lampião ao poder, completamente branqueado pela comunicação social, transformada em máquina de propaganda encarnada.
O déjà vu que hoje passa diante dos meus olhos é este: uma equipa que continua a ser beneficiada em momentos chave da época, graças ao domínio que hoje tem nas instituições, como o conselho de arbitragem. Uma equipa que passeia nos jogos contra as equipas “pequenas”, obtendo vitórias fáceis onde outros têm de correr 90 minutos para segurar uma vitória pela margem mínima. O facto de alguns destes clubes “pequenos” terem assinado o seu acordo de venda dos direitos televisivos no gabinete do presidente do benfica, não será mera coincidência. A boa campanha europeia benfiquista nesta época, em parte devida à sorte de não ter defrontado equipas fortes, também se deve à folga obtida nas competições internas, ajudando a reconstruir o mito portista de “se somos beneficiados cá dentro, como é que estamos entre os melhores lá fora?”
Ao controlo das instituições futebolísticas e do poder económico sobre os clubes pequenos, este novo sistema benfiquista – inspiradamente baptizado como “estado lampiânico” – juntou um outro, que o portista nunca conseguiu dominar: o da manipulação da opinião pública, manifestado pela forma sincronizada como os seus painéis de comentadores cantam o coro do são gabriel ou, mais maquiavelicamente, como os jornaleiros “isentos” defendem o benfica e atacam os seus rivais directos, em especial o Sporting. Juntem a isto os porcos giles que proliferam nas redes sociais, a coberto da falsa capa de “adepto isolado”, e temos o anel de ferro encerrado em torno do futebol português.
O sucesso portista entre 1994 e 2012 também se deveu à falta de combatividade, cobardia e mesquinhez que grassava dentro das direcções dos seus rivais. Assim se explica como o mais pequeno dos grandes clubes portugueses teve sucesso durante tanto tempo seguido. O sucesso benfiquista dependerá igualmente da forma como os seus rivais reagirão à sua ascensão. Do lado do porto, a tendência parece ser de declínio, entre um presidente já em decadência, rodeado de uma clique belicosa e sedenta de poder, mas com um défice orçamental galopante, lembrando o benfica dos anos 90. E do nosso lado como será? Esta é a questão que temos de colocar a todos nós, enquanto adeptos e sócios sportinguistas. Se queremos voltar a ver um filme que já vimos. Ou não.

«Defender o direito a sermos Sporting»

Imaginem dois exércitos num campo de batalha prestes a defrontarem-se. Agora coloquem no lugar de general do exército de uniforme verde e branco, Bruno de Carvalho e do lado oposto, a chefiar as hostes vermelhas, Luís Filipe Vieira.
Imaginem agora que tipo de exércitos tem cada um à sua disposição. Do nosso lado, uma imensa massa de bravos guerreiros, motivados, leais. Do lado oposto uma horda disforme, grande em número e não menos grande na arrogância. Aos comandos de Vieira estão também várias baterias de artilheria pesada, jornais, revistas, tv´s com o stock bem abastecido de projeteis, um misto de contrainformação e análises tendenciosas. Mesmo ao lado dos canhões, um batalhão de cavalaria que conta com dezenas de figuras públicas onde se incluem ex-dirigentes, ex-treinadores, políticos e advogados, economistas e juízes, todos alimentados com espaço mediático a fugir de longe ao soldo de “militar” convencional. Para finalizar e lá bem para trás no alinhamento das tropas, uma divisão de elefantes com a bandeira de vários empresários de jogadores e empresas de “gestão de carreira de atletas”.
Viramos o foco e atrás de BdC, quem se apresenta ao lado dos adeptos guerreiros? Os ex-dirigentes há muito que mudaram de lado. Excetuando Sousa Cintra, os que não vivem em “conventos” votados ao silêncio não se querem juntar às tropas, preferindo a neutralidade e viver para próximas batalhas (deixando outros leões à sua sorte – que bela forma de explanar um elitismo espetacularmente idiota). Artilharia? Pouca e com alcance muito curto. O jornal do Sporting, a Sporting TV e as redes sociais fazem o que podem, mas na hora de fazer estragos na opinião pública, a sua eficácia frente a 3 diários desportivos, 4 ou 5 estações de tv e outras redações de jornais generalistas diários é…menos comprovável. Além do mais, muitas figuras públicas que vivem do seu estatuto mediático preferem não se comprometer com o apoio a BdC, os jornais, rádios e tv´s pertencem a grupos económicos e estes por sua vez pertencem a outras redes de investimentos que há muito se comprometeram com grupos de interesse que por exemplo apoiam muitas das empresas que inscrevem o seu nome nos relatórios e contas do clube encarnado.
Meus caros guerreiros, não estamos ao lado do nosso Presidente por sermos facilmente arregimentados para lutas inglórias, por sermos colocados no terreno de batalha para fins muito semelhantes ao do nosso rival ou porque seguimos a bandeira do Leão mesmo que nos leve por maus caminhos. Não. Se escolhemos estar nesta posição é porque acreditamos que existe um confronto a ser realizado que será inadiável. Duas visões de desporto. Duas formas de obter o sucesso. E acreditamos que a nossa é igual à da nossa Direção. A de quem não está disposto a prejudicar o clube para que este vença. A que “compra” apoios à custa do bom nome da instituição. A que hipoteca o futuro em nome do presente. A que não está disposta a enfrentar a igualdade de direitos competitivos, preferindo usar a sua dimensão para fazer inclinar os terrenos de jogo. A que cria castas entre os adeptos, onde uns comem e os outros dão de comer. A que menospreza os seus próprios adeptos com manobras de garrafão e sandes de chouriço, realidade alternativas que escondem contas mal feitas e prejuízos hiperbólicos por debaixo de um tapete que se confunde com a cumplicidade de um regime ditatorial prestes a explodir de tantas mentiras.
Enquanto Bruno de Carvalho e restante Direção for a oposição a tudo isto, eu e vocês, todos nós adeptos estaremos lá no campo de batalha, orgulhosamente ao seu lado. Até agora, com mais ou menos erros, mais ou menos inexperiência, precipitação ou pura falta de capacidade de pactuar com esquemas…o nosso general tem sido fiel ao nosso apoio, mas é precisamente a razão do nosso compromisso com ele que torna impossível a presença de cavalarias, artilharias e outras “unidades especiais”. É este não pacto com os “interesses”, os “status quo”, os “sistemas” e outros polvos de longos tentáculos que nos isola num exército sem obuzes, raides de sabre ou demolições paquidermes. É a real politik dos mais favorecidos, numa sociedade podre de silêncios e alinhamento por share, audiência ou target…que nos faz depender da coragem quase inglória de nós, soldados a pé, para fazer avançar a nossa bandeira. E meus caros, as nossas cores só poderão crescer e cumprir o seu desígnio enfrentado quem vê esse caminho como ameaça ao seu próprio regime.
Tempos houve em que era respeitado o espaço e a meritocracia dos clubes em poderem ser campeões. O contrato era simples, o melhor ganha. Não o maior, o mais influente, o mais rico ou o mais trapaceiro. Mas sim o que formava ou adquiria (por custas próprias) os melhores atletas, o que garantia os melhores treinadores, o que elegia os líderes mais sagazes, honrados e corajosos. O que tinha os adeptos mais fervorosos e leais. Esse compromisso acabou com a ascensão e auge de Pinto da Costa e modernizou-se na podridão com Vieira. A luta do Sporting, a batalha de BdC, as eternas indignações de nós adeptos não são espasmos de quem não aceita perder porque é mais fraco, mas sim os gritos mais ferozes de um sentimento de direito a que nos recusamos abdicar. O de sermos mais fortes.
Nesta época é por demais evidente que somos nós adeptos que temos suportado este presidente, esta direção, este treinador e esta equipa. Somos nós que temos sido carne para ajudar a combater todos os jornais, tvs, elefantes, cavaleiros com ou sem cabeça, snipers ou balas de canhão arbitrárias e arbitrais. Somos nós a força e alma deste exército. Os “pensadores ajuizados”, os “artistas do compromisso”, os rostos e vozes das televisões, as penas finais e elegantes, esses estão nos camarotes…olham para nós no terreno de batalha e apostam na nossa derrota e riem-se, desbragadamente troçam da nossa coragem, fazem piadas sobre a generosidade da nossa comparência, na nobreza dos nossos cânticos e de comos estamos no Minho, como na Madeira ou no Restelo…riem-se e observam de longe a luta. Se perdermos tanto melhor, pois comerão na mesa do rival vitorioso com os mesmos sorrisos com que se virão juntar-se a nós se vencermos. Pois que virão se isso acontecer…e então sim, aparecerão todos em nobres desfiles em cavalos garbosos e luxuosamente decorados. Virão em paradas para tvs, fornais e rádios ouvirem e verem. Rodearão BdC com ofertas e provas da sua lealdade e promessas de apoio incondicional. Que o nosso presidente saiba cuspir nesses votos e entender que “nobres” são os que o provam ser nas alturas mais difíceis e não os que caem de paraquedas na hora de cantar vitória.
             http://atascadocherba.com/

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