Hipócritas. Cambada de hipócritas que povoam este País a beira-mar plantado. Senhores do carneirismo e da falta de sentido crítico. Deuses do politicamente correcto e dos valores mediáticos. Esta é a realidade política, jornalística e social de Portugal e da Europa.
Vivemos tempos perigosos de acções espontâneas impulsionadas por um mundo gerido por ‘likes’ (“gostos”, em português) e partilhas da internet. Quem nos governa deveria ser superior a isso, mas não é. O jornalismo deveria ser superior a isso, mas não é. Como podemos pedir ao povo que o seja?
Uma bola de neve que todos vemos, mas ninguém sabe como parar. Uma vergonha para Portugal, mas também para a Europa. Não somos especiais, não somos caso único. A Europa está a perder-se. Esse tempo começou quando alguém quis que todos aceitassem tudo e todos. Analisemos os últimos eventos.
De repente quiseram impingir-nos que a Europa está a receber “migrantes” e não emigrantes. As mesmas pessoas que em Portugal dizem que a diminuição do desemprego se deve à emigração. Ou seja, os portugueses são emigrantes em França ou Inglaterra. Países esses da Europa. Mas pessoas cuja cultura difere em tudo com a nossa, que vêm fora do nosso continente, são “migrantes”. Porque é que raio eu tenho de ser emigrante para o meu País e ser imigrante para os britânicos enquanto estas pessoas que vêm de fora são migrantes? Não o são. São imigrantes e têm de ser tratados como tal.
Ou então vamos tratar esta gente como refugiados. E refugiados não são nem emigrantes nem migrantes. São refugiados. Num caso ou outro, o problema não é só europeu, muito menos de semântica. Não é a Europa que está a falhar. Não nos vendam mais esta mentira.
A Europa tem os seus próprios problemas. Portugal tem os seus próprios problemas. E os nossos problemas não são problemas de outros! Aliás, quando Portugal precisou de ajuda financeira apareceram as hienas capitalistas para nos sugar dinheiro em juros encapotando tal atitude como uma ajuda. Os mesmos que exigem agora da Europa um apoio multimilionário a um problema que ocorre fora de fronteiras. Um problema global, humanitário. Um problema para o qual existe a ONU e outras instituições – às quais damos dinheiro – para darem a melhor resposta possível.
Onde estavam estes dois milhões de euros que a Câmara Municipal de Lisboa quer arranjar para os refugiados? Onde estava este dinheiro quando era (e é) preciso para os sem-abrigo de Lisboa? Para os idosos com baixas reforma que vivem da caridade, para as crianças cujo jantar advém da ajuda solidária de instituições privadas ou ligadas à Igreja…
Somos motivados por uma foto de uma criança que morreu na praia? É isso que nos motiva? É isso que nos faz sentir menos mal connosco? Quantos dramas familiares, sociais conhecemos bem perto de nós? Quantas vezes trabalhámos em prol das famílias do nosso concelho? Da nossa freguesia? Do nosso bairro? Ou quantas vezes demos de comer ao vizinho da porta em frente, cujo filho tem dependência de drogas e até bate nos pais?
Movemo-nos pelo imediato. Sem espírito crítico. Tanto condenamos a morte do leão em África como da criança que tentava viajar com a família até ao Canadá. Tanto comentamos a fotografia de Joana Amaral Dias como a entrevista ao distribuidor da Telepizza.
Temos de parar.
Respirar.
Pensar e construir um juízo crítico.
Os milhões de emigrantes que fogem de uma realidade atroz e tentam chegar à Europa não querem saber da nossa cultura. Vão querer manter hábitos e costumes. Até onde vai a nossa tolerância com pessoas que jamais iriam tolerar os nossos hábitos e costumes nas suas terras? Como se espera que a Europa tolere (e se adapte) a todos os hábitos e costumes de pessoas que não aceitam que os turistas europeus ajam segundo os valores cristãos nos seus próprios países?
Não é racismo. Não é xenofobia. É a realidade. É a visão de alguém que vive numa cidade multicultural, como é Londres.
Na semana passada uma colega de trabalho dizia-me que outros descendentes de africanos (como ela) a viver em Londres se tinham comportado como macacos no carnaval da cidade, que decorreu há algumas semanas. Não o disse sem, no meio, especificar que ela o poderia dizer, dada a sua origem. Se eu o dissesse seria racismo, por certo.
Quando há algumas semanas uma carrinha foi encontrada na Áustria com imigrantes mortos, uma colega brasileira mostrou-se pouco impressionada. Disse-me que nós europeus éramos muito sentimentalistas. No Brasil morrem todos os dias milhares de pessoas. “É normal”, disse ela. A mesma pessoa que se demonstrou chocada e triste com a foto da criança morta na praia.
Somos hipócritas. Agimos pelos ‘likes’ no Facebook. Pelas fotos do leão ou das criancinhas… Enquanto isso, achamos que as guerras em África não são problema nosso. Que os conflitos na Síria são uma coisa lá bem longe.
A partir do momento que aceitamos receber refugiados temos o direito de intervir nestes conflitos e dizer basta!
Agora é um problema nosso. Vamos querer fechar os olhos e aceitar milhões de pessoas no nosso território, ou vamos querer fazer todos os possíveis para que estas pessoas não tenham de fugir de suas casas e passar por dramas horríveis em busca de uma terra prometida?
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