“A Expansão Ultramarina de Portugal começou há 600 anos, com a conquista de Ceuta”
Entre centenários e aniversários redondos, 2015 vai ser o ano de comemorações para todos os gostos, de factos e personalidades que marcaram Portugal e o mundo ao longo dos séculos. Uma oportunidade para lembrar que a maior lição da história é que… os homens não aprendem com as lições da história.
600 anos da conquista de Ceuta
“E assim, não tendo a quem vencer na terra,/Vai cometer as ondas do Oceano./ Este é o primeiro Rei que se desterra/ Da pátria, por fazer que o Africano/ Conheça, pelas armas, quanto excede/ A lei de Cristo à lei de Mafamede.” (Os Lusíadas, canto IV, est. 48).
Por muitos engulhos que causem à brigada do politicamente correcto, estes versos de Camões consagram o acto fundador do momento mais alto da quase milenar História de Portugal: a Expansão Ultramarina.
A 22 de Agosto de 1415, faz este ano seis séculos, uma frota de duas centenas de navios fez desembarcar no Norte de África cerca de 20 mil portugueses que rapidamente tomaram a cidade.
Importante entreposto comercial muçulmano, Ceuta foi escolhida como alvo não só pela sua riqueza – tanto em especiarias vindas do Oriente como em cereais produzidos nos arredores – mas também pela sua situação estratégica: porto na margem africana do Estreito de Gibraltar, na confluência do Oceano Atlântico com o Mar Mediterrâneo.
À frente da expedição estavam o rei D. João I, o príncipe herdeiro, D. Duarte, os infantes D. Pedro e D. Henrique, e o condestável D. Nuno Álvares Pereira, que interrompeu o recolhimento a que se entregara como monge no Convento do Carmo – onde tomou o nome pelo qual hoje é venerado nos altares: S. Nuno de Santa Maria – de propósito para estar presente no dia 1 da Expansão.
Treze dias depois da vitória, D. João I, os príncipes (que tinham sido armados cavaleiros logo a seguir ao combate) e o condestável, acompanhados pelo grosso do exército e da armada, voltaram a Lisboa. Como governador da cidade ficou D. Pedro de Meneses, conde de Viana.
Ceuta foi o ponto de partida para as conquistas no Norte de África e para o início das viagens das Descobertas no Atlântico, que permitiram aos mareantes portugueses reconhecer a costa africana e, menos de um século depois, a chegar à Índia.
500 anos da morte de Afonso de Albuquerque
Lá mais para o fim do ano, a 16 de Dezembro, passam cinco séculos sobre a morte do “Terrível”: “Albuquerque terribil”, um daqueles “em quem poder não teve a morte”, como lhe chamou Camões (Os Lusíadas, canto I, est. 14).
Afonso de Albuquerque foi o principal construtor do Estado Português da Índia. Nomeado governador em 1509, conquistou Goa, onde instalou a capital, em 1510, Malaca em 1511 e Ormuz em 1515, fazendo do Oceano Índico um “mar português”.
Famosa ficou a sua resposta dirigida aos enviados do Xá da Pérsia que lhe exigiam o pagamento de um tributo após a conquista de Ormuz: “Mandou trazer das naus pelouros de bombardas, bestas, e espingardas, e bombas de fogo: e que dissesse ao rei, que mandasse tudo aquillo ao capitão do xeque Ismael, porque aquela era a moeda, em que el-rei de Portugal mandava aos seus capitães, que lhe pagassem as pareas daquele reino, que estava debaixo do seu senhorio, e mando.”
Afonso de Albuquerque organizou a administração da Índia portuguesa, tendo incentivado o casamento de portugueses com nobres indianas. Foi ainda ele quem rompeu com a brutal tradição local que obrigava a matar as viúvas nas piras funerárias dos maridos.
Chegado à barra de Goa, no regresso de Ormuz, recebeu a informação de que fora substituído no governo da Índia por Lopo Soares de Albergaria, seu velho inimigo.
Escreveu ao rei D. Manuel I: “Mal com os homens por amor del Rei, e mal com El Rei por amor dos homens, bom é acabar.” E morreu.
200 anos da batalha de Waterloo
No dia 18 de Junho assinalam-se 200 anos sobre a batalha que marcou o fim da aventura napoleónica. Regressado do exílio na ilha de Elba com uma escolta armada insignificante, Napoleão usou o seu carisma pessoal para converter o exército enviado para o capturar ou abater.
Dias depois entrava em Paris para voltar a sentar-se no trono instalado no palácio das Tulherias, abandonado à pressa pelo rei Luís XVIII, que correu a abrigar-se sob a asa protectora da Inglaterra e da Prússia, que poucos meses antes tinham patrocinado a Restauração da monarquia borbónica.
No período que ficou conhecido como os Cem Dias, apesar de ter promulgado uma Constituição liberal e tentado uma aproximação pacífica aos vizinhos, Bonaparte viu-se confrontado pela 7ª Coligação – e arriscou um ataque preventivo. Avançou sobre a Bélgica, tentando derrotar as tropas britânicas antes da chegada dos reforços prussianos.
O recontro deu-se em Waterloo, onde o duque de Welington, que já vencera os franceses em Portugal, conseguiu manter a supremacia britânica. A chegada do prussiano Blücher foi o toque a finados para Bonaparte, que perdeu pela segunda e última vez a coroa imperial francesa.
Bismarck nasceu há dois séculos
Dois meses e meio antes da batalha de Waterloo, a 1 de Abril de 1815, Otto von Bismarck nasceu em Schönhausen, na Saxónia, numa família da nobreza prussiana. Ao contrário de muitos jovens jünkers como ele, Bismarck não seguiu a carreira das armas, mas cedo se distinguiu na política e na administração.
Marcou posição contra os revolucionários de 1848 e, em 1862, foi nomeado ministro-presidente da Prússia pelo rei Guilherme I.
Desde esse momento a sua preocupação foi conseguir a unificação da Alemanha sob a hegemonia prussiana. Traçado o objectivo estratégico, seguiu-o com precisão cirúrgica. Em 1864, derrotou a Dinamarca com o apoio da Áustria, anexando à Prússia os ducados de Schleswig e Holstein. Logo em 1866, voltou-se contra o antigo aliado e derrotou a Áustria na batalha de Königsberg (Sadowa), tornado-se a potência dominante entre os estados de língua alemã. Por fim, conduziu a Prússia à vitória na Guerra Franco-Prussiana de 1870, capturando Napoleão III.
A 18 de Janeiro de 1871, no palácio de Versalhes, coração da França derrotada, o próprio Bismarck proclamou o 2º Reich (considerando que o primeiro fora o Sacro Império Romano-Germânico dos sucessores de Carlos Magno). A Alemanha estava unificada e ele era o chefe do governo do novo império.
Nos anos seguintes, o “Chanceler de Ferro”, como ficou conhecido, deu cartas na política europeia, sobretudo no Congresso de Berlim de 1878, que reorganizou os Balcãs, e na Conferência de Berlim de 1884-1885, onde ficou decidida a partilha de África pelas potências europeias.
125 anos do Ultimato
A 11 de Janeiro de 1890, faz esta semana 125 anos, o governo inglês chefiado por Lord Salisbury entregou ao embaixador de Portugal em Londres, Luís de Soveral, um Ultimato exigindo a retirada das tropas portuguesas dos territórios entre Angola e Moçambique incluídos no Mapa Cor-de-Rosa.
A ligação entre as duas grandes possessões portuguesas nas duas costas de África colidia com o projecto do africanista britânico Cecil Rhodes que ambicionava unir o Cabo (na África do Sul) ao Cairo (no Egipto) à sombra da “Union Jack”.
Sem cuidar de saber a quem cabia a força da razão, os ingleses apressaram-se a fazer valer a razão da força, ameaçando com a guerra se o governo português não cumprisse as exigências. Impotente para resistir, Portugal cedeu.
O Ultimato marcou o início do reinado de D. Carlos e deu um forte impulso à propaganda republicana.
Os 100 anos do “14 de Maio”
Foi uma das mais sangrentas revoltas da I República. A 14 de Maio de 1915, a “formiga branca”, braço armado do Partido Democrático de Afonso Costa, encabeçou o golpe que derrubou o governo do general Pimenta de Castro e forçou a renúncia do primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga.
Perante as manobras autoritárias de Afonso Costa, o Presidente chamara ao governo Pimenta de Castro que, perante a inflexibilidade das pretensões hegemónicas dos “democráticos”, encerrou o Parlamento.
Afonso Costa promoveu uma reunião dos deputados no Palácio da Mitra, onde, num dos seus habituais gestos teatrais, declarou o Governo “fora da lei”. E deu ordem à milícia do partido, a “formiga branca”, para passar a acção.
Os democráticos recuperaram o poder pela força, à custa de centenas de mortos nas ruas de Lisboa.
Há 70 anos, a bomba atómica e o fim da Segunda Guerra Mundial
Sete décadas depois, o mundo fará bem em parar para reflectir sobre a tragédia que traçou o rumo da História do nosso tempo. A 30 de Abril de 1945, com as defesas de Berlim obliteradas pelo rolo compressor do exército vermelho, Hitler suicidou-se e dias depois, a 8 de Maio, a Alemanha capitulou.
Mas a guerra continuou no Pacífico até que Truman, pressionado pela resistência dos japoneses à medida que a ofensiva aliada se aproximava do arquipélago – que ameaçava fazer prolongar a guerra durante anos, com a perda de centenas de milhares de vidas americanas – decidiu usar a arma atómica.
A destruição de Hiroxima e Nagasáqui levou à rendição do imperador Hirohito.
Portugal pluricontinental acabou há 40 anos
1975 não foi só o PREC e o fim da “macacada” no 25 de Novembro. Para a História ficou sobretudo o fim de um império ultramarino com cinco séculos, marcado pela convivência entre portugueses de várias raças e credos, do Minho a Timor.
A “descolonização”, isto é, a entrega das províncias ultramarinas portuguesas a grupos armados teleguiados do estrangeiro (os “movimentos de libertação” que tanto jeito deram aos dois lados da guerra fria) ficou como a principal mancha da pesada herança do golpe militar de Abril do ano anterior.
O fim da guerra do Vietname
Também há quatro décadas, em Abril de 1975, acabava a guerra do Vietname, antecedida poucos dias pela entrada ameaçadora dos guerrilheiros Khmer Vermelhos em Phnom Penh, a capital do Camboja. A demência assassina do comunismo na versão de Pol Pot provocou o genocídio de dois milhões de cambojanos no holocausto dos arrozais da morte.
No vizinho Vietname, a seguir à fuga dos americanos do tecto da embaixada em Saigão, a ditadura dos discípulos de Ho Chi Minh também foi brutal. Embora mais refinada: os vietnamitas chegaram a invadir o Camboja, com a desculpa de acabar com a paranoia de Pol Pot.
Em ambos os países, o comunismo acabou por cair com a implosão do império soviético.
Sem comentários:
Enviar um comentário